Quando a preservação vale mais que o sacrifício: Tirar o chifre para Sobreviver
Saiba como é feito a remoção do chifre de rinocerontes e o destino final deles
10/8/20254 min read
À primeira vista, o ato de serrar o chifre de um rinoceronte pode parecer cruel. No entanto, essa prática — adotada por conservacionistas em diversas partes da África — tornou-se uma das estratégias mais eficazes para salvar a espécie da extinção provocada pela caça ilegal.
Uma crise de extinção silenciosa
Os rinocerontes estão entre os animais mais ameaçados do planeta. De acordo com dados recentes da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), milhares são mortos todos os anos em países como África do Sul, Namíbia e Zimbábue, vítimas da caça ilegal motivada pelo alto valor de seus chifres no mercado negro.
Na Ásia, especialmente no Vietnã e na China, o chifre de rinoceronte é falsamente considerado um produto medicinal, além de ser usado como símbolo de status e riqueza. Essa demanda exorbitante transformou o chifre — feito de queratina, a mesma substância das unhas humanas — em um artigo mais valioso do que o ouro.
Por que remover o chifre?
Diante desse cenário alarmante, conservacionistas e autoridades ambientais decidiram agir de forma preventiva. O procedimento conhecido como “dehorning” consiste na remoção controlada do chifre do rinoceronte, com o objetivo de reduzir o interesse dos caçadores ilegais.
A lógica é simples: sem o chifre, o animal perde seu valor comercial e deixa de ser um alvo rentável.
“O dehorning é uma medida extrema, mas necessária”, explica Peter Hall, biólogo sul-africano e membro da ONG Save the Rhino International. “Ao retirarmos o chifre de forma segura, evitamos que o animal seja morto brutalmente por caçadores que, de outra forma, o abateriam apenas para levá-lo.”
Um procedimento seguro e indolor
Apesar de causar impacto visual, o processo é feito com total segurança e sem causar dor ao animal. Os rinocerontes são tranquilizados com anestesia antes da remoção, e a operação é conduzida por veterinários especializados.
O chifre é então serrado cuidadosamente, deixando uma pequena base — semelhante ao corte de uma unha. Como o material não possui terminações nervosas, o animal não sente dor durante ou após o procedimento.
O corte leva em média 20 a 30 minutos, e o rinoceronte é monitorado até acordar e se recuperar completamente. O chifre volta a crescer ao longo de 18 a 24 meses, sendo necessário repetir o processo periodicamente.
O destino dos chifres removidos
Os chifres coletados não são vendidos nem utilizados comercialmente. Eles são catalogados, identificados e armazenados em cofres de alta segurança por órgãos governamentais ou organizações ambientais.
Em alguns casos, os chifres são destruídos publicamente, em atos simbólicos que reforçam a mensagem de que esses produtos não têm valor comercial. Países como Quênia e Botswana já realizaram eventos de queima de grandes estoques de chifres e marfim apreendidos.
Parte do material também é destinada à pesquisa científica, ajudando em estudos sobre genética, composição da queratina e métodos de rastreamento de peças traficadas.
Resultados e desafios
Em regiões onde a prática foi implementada, como em reservas da Namíbia e da África do Sul, o número de rinocerontes mortos por caçadores ilegais diminuiu significativamente.
No entanto, especialistas alertam que o dehorning não é uma solução definitiva, e sim uma forma de ganhar tempo enquanto medidas mais amplas são aplicadas — como o fortalecimento das leis ambientais, o combate ao tráfico internacional e a educação sobre a proteção da vida selvagem.
“O verdadeiro desafio está na mudança cultural”, afirma Thandi Mokoena, coordenadora de conservação da Fundação África Selvagem. “Enquanto houver pessoas dispostas a pagar fortunas por um chifre, os caçadores continuarão existindo.”
Uma esperança em meio à crise ambiental
Apesar das controvérsias, a remoção preventiva dos chifres tem se mostrado uma aliada importante na luta pela sobrevivência dos rinocerontes. É uma medida extrema, mas motivada por uma necessidade ainda maior: evitar que esses gigantes gentis desapareçam da face da Terra.
Sem o chifre, o rinoceronte perde valor para o mercado negro — e ganha valor para o planeta.
Enquanto cientistas e conservacionistas continuam buscando soluções permanentes, o dehorning representa uma chance de preservar a espécie e restaurar o equilíbrio natural das savanas africanas.
📊 Fatos rápidos:
O chifre de rinoceronte é composto por queratina, a mesma substância das unhas humanas.
Não há terminações nervosas no chifre, o que torna a remoção indolor.
Estima-se que mais de 9 mil rinocerontes tenham sido mortos por caçadores na África do Sul desde 2007.
Um quilo de chifre pode valer até 60 mil dólares no mercado ilegal.
🌍 Conclusão
A imagem de um rinoceronte sem chifre pode causar desconforto, mas também representa resistência e esperança. É um lembrete de que, mesmo diante das piores ameaças, a ação humana ainda pode ser usada para proteger — e não destruir — o mundo natural.
Fonte: Save the Rhino International, IUCN, Fundação África Selvagem, National Geographic














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